Fé e Razão
- José Carlos Pereira Gervásio
- 5 de jul. de 2016
- 3 min de leitura
A relação entre fé e razão é tão antiga como o próprio Cristianismo. Este problema coincide com a relação entre Teologia e Filosofia, ou seja, a Fé e Razão. A Filosofia não se satisfaz com o imediatamente dado, com os fatos externos do mundo ou com a experiência subjetiva interna. Transcende os diferentes campos, enquanto volta seu olhar para o todo de nossa realidade. Orienta-se para as estruturas fundamentais, para aquilo em que se apoia o real e nosso saber sobre ele. Fé e razão encontram-se na transcendência, embora em perspectivas diferentes. A Filosofia somente tem compromisso com uma visão racionalmente fundada, mas não com uma tradição autoritária. Seu caminho e critério é a razão responsável em si e para si. A Filosofia formula a simples exigência de juízos racionais. Isso não significa que, de antemão, deve rejeitar as afirmações da fé que funda nosso mundo no âmbito do divino ou transcendente.
A indagação filosófica racional tem uma orientação semelhante. Mas não pode esgotar-se na explicação de uma tradição da fé. Para ela vale somente o que se pode justificar racionalmente. Com isso abre-se o campo para um diálogo fecundo entre Filosofia e Teologia, entre fé e razão. A Filosofia formula questionamentos contra certas concepções religiosas, contra a falta de consistência ou insuficientes fundamentações. Por sua vez, a fé pode interessar-se em discernir, com a ajuda da Filosofia, conteúdos essenciais de outros secundários para obter bases mais sólidas. Por outro lado, a fé pode proteger a Filosofia contra reduções racionais, evitando que chegue a conclusões precipitadas que contradizem a abertura e o alcance da razão. A fé também não deve fugir das objeções da razão científica, mas deve estar disposta a argumentar. Se realmente busco a verdade, em princípio, devo interessar-me na discussão. Cada postura deve justificar-se perante o fórum crítico da razão. O acesso à verdade somente é possível através do diálogo. Por isso a história da Filosofia é a grande mestra, pois é o diálogo que supera o tempo. Ensina a grandeza, mas também os limites das muitas e diferentes concepções.

A historicidade e o condicionamento constituem nossa liberdade. Somente conseguimos transcender esse condicionamento enquanto o conhecemos e dele temos consciência. A fé precisa ter a coragem de dialogar com opostos e não limitar-se ao diálogo. Segundo o saudoso Papa São João Paulo II, na carta Encíclica “Fides et ratio”, “a fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade”. Tal afirmação nos leva a concluir que é pela fé e pelo uso da inteligência que podemos chegar a Deus, Verdade Suprema. O Papa Bento XVI afirma em sua audiência geral que “Fe e razão necessitam uma da outra, se complementam, não somente para uma compreensão meramente intelectual, mas também para alimentar esperanças verdadeiras na humanidade e orientar as atividades rumo à promoção do bem de todos.
Assim sendo concluo que, as ideias que foram aqui apresentadas nos mostram que fé e razão são indissociáveis, ou seja, devem caminhar juntas se quisermos alcançar o conhecimento da verdade a respeito das questões mais fundamentais para o ser humano, tais como: Quem sou eu? De onde venho? Para onde vou? Qual é o sentido da vida? O que é o bem? Em que consiste a felicidade? Todas estas perguntas só poderão ser respondidas de modo satisfatório se partirmos da especulação filosófica e passarmos ao conhecimento da auto revelação de Deus que nos é oferecido pela fé cristã. Entre fé e razão não existe contradição, mas sim convergência na busca pela única e plena verdade. À luz da razão e à luz da fé provêm ambas de Deus Criador e, por isso, não podem contradizer-se. Mas para que exista harmonia entre elas, é indispensável que a Filosofia retome a consciência de seu eminente papel entre as ciências, mediante o tratado de Metafísica, no qual a razão vai em busca da Causa Primeira e do Fim Último de todas as coisas. Desse modo podemos dizer ao crente: raciocina, para que possas chegar à verdadeira fé. E ao racionalista: creia, para que possas compreender.
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